segunda-feira, 23 de março de 2015

Peito dorido…

Na raiz do pensamento
Nem a chuva nem o vento
Te conseguem derrubar
A força dessa razão
Está no enorme coração
No teu peito a palpitar

Dormes em “lençóis doridos”
Maus tempos, neles vividos!
A terra cobre o desagrado
Traçaste mal o destino
Dum amor desde menino
Num destino mal traçado

A seiva que te alimenta
É amor que sustenta
Como água em ti contida
Cresceu em ti esta dor
Coisas que um grande amor
Concebe à própria vida

Na raiz do teu viver
Há esse enorme querer
De quem ama para sempre
O amor… tudo perdoa!
Mesmo que o peito de doa
Vais amar eternamente 

Fernando Silva


quinta-feira, 19 de março de 2015


A velha nora lembra-nos no mais agradável pensamento e nos recorda os trabalhos de uma vida… que a nossa imaginação transpõe de fácil acesso! Longe vai o tempo, em que de calções vestidos, umas alpargatas gastas pelo tempo, caminhavam pelos trilhos de um tempo “perdido” no tempo, em busca de dias de maior rentabilidade para fazer face aos dias adversos, na procura da tão necessitada água… para o desenvolvimento das culturas.
 A velha nora, sustentava o regadio, rendimento próprio de quem detinha uma “agricultura de subsistência”. Jaz agora num terreno perto de si, abandonada, enquanto o tempo a destrói. Haste gasta pelos martírios, alcatruzes rudes deixados ao desdém “enquanto uns se enchiam outros ficavam vazios” e depositavam a preceito, a água que se dirigia livremente para os regos onde a vida despontava. 
Longe vai o tempo em que os animais davam voltas e voltas até saciarem os caneiros criados para que a água não levasse outro rumo… que não, o dos alimentos agrícolas.
Sabor insípido que a vida contempla e nos conduz a trilhos por muitos palmilhados, que nos honram e nos trazem uma “melancolia- nostálgica”, que nos toca e nos faz recordar os tempos de criança.
Até as flores, que embelezavam o teu ser murcharam, hoje, só as silvas predominam nos teus resguardos. De que te serviu um vai e vem constante? Para quê tanta labuta? Tanta azáfama! E tanto sobe e desce, no ajudar a crescer e fazer crescer, o alimentar de vidas… foste deixada ao abandono, estás velha… já não serves! O teu fim é uma morte… lenta! Hoje, de “musgo vestida”, sofres as intempéries e o abandono de quem te usou enquanto nova. Os alcatruzes da nora vão permanecer pelo tempo fora...nem que seja apenas no nosso pensamento. 

Fernando Silva



Derramei 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Observo deste penhasco de musgo vestido, as cores garridas… característica destes montes, cujo espelho de água em ti se reflecte!
Baluarte de outrora que a história nos deixou, pintado de vida em seu redor e esse pinheiro manso que já não vejo faz tempo…
Lembro… o caminho sinuoso que percorre a distância, entre o viver da montanha, de liberdade tamanha, onde os “Gaios” resistiam às adversidades do tempo. Das giestas em flor, num quadro pintado pela natureza, num amanhecer bucólico onde o sol não se olvida de aparecer.
Tempos de criança que me levam ao balouço da vida, auxiliado pelos braços de quem me ama.   
Recordo-me… tanto momento vivido na doce paixão de vos amar! Que a nostalgia me traz de forma carinhosa e o cheiro dessa rosa que despontava para a realidade…com os espinhos da vida. As pétalas foram caindo e fertilizando a terra.
Subo à Lapa, daqui, vejo-te imponente, vestida de luz, transparência e progressividade. Tornaste-te outra… e de cara lavada mostras ao mundo as diversidades de escolhas. Daqui, contemplo-te e no meu horizonte retenho a vontade de em ti permanecer! O meu olhar segue pelos caminhos feitos em prole das acessibilidades… é o progresso de uma zona tantas vezes esquecida, por quem tem a responsabilidade de te proteger. No lazer do meu olhar detenho os cursos hídricos que me levam ao nascente, onde mergulho de paixão e orgulho, enquanto as braçadas se dilaceram deliciosamente no meu mais ente, e, nesta corrente, deslumbro-me na afectividade com que recebes quem te visita. Os teus braços abertos para quem chega são o postal ilustrado, complementado com a estátua imponente de D. Dinis, Rei, Poeta e Lavrador, que te deu o nome de Flor, enquanto, no jardim onde as flores são mais viçosas, a Rainha Santa, esmera a paixão e se entrega de coração a esse amor.



quinta-feira, 12 de março de 2015

O outro lado de um Carrasco.

A imponência do teu ser… transporta-me para a minha meninice!
A curva onde te situas é ponto de passagem sem retrocesso. Junto de ti…diz a lenda, outros horizontes se vislumbravam. Todavia, há o “outro lado de”…e é aí que me debruço, olhando o teu porte, quantas vezes gostarias de não existir para não assistires à tristeza que por ti passa.
As tuas raízes transpõem o pensamento, percorrem a estrada onde tanta vida por ali atravessa…A saudade leva-me para lá dos teus “braços”. As lágrimas caem imprudentemente sob o caule da vida, onde a sinuosidade de esperança termina. Ouço perto de ti a voz que encanta e o “mundo” espanta neste pedaço onde o acaso me fascina. Num olhar amargo, por vezes quase cruel, olhas a estrada e meu olhar se esvaia, por entre a multidão que segue. Raízes que a alma atravessa na passagem sem pressa e deixam que os teus ramos respirem, em partilha de momentos, por haver tantos que ao passar, rezam a Deus as preces sentidas. Carrasco, testemunho de outros medos, quantos segredos guardas religiosamente no teu todo. As tuas raízes espalham-se na "doce" terra da veiga, o teu tronco é a fortaleza que segura tantos ais, teus ramos a serenidade de quem se esmera, que de primavera a primavera vês... tanta “vida” a passar.
   
Fernando Silva