Uma foice na cintura
Uma” taleiga” com pão
Leva a fé e a ternura
E o amor no coração
Os dedais com que segura
A palha árdua… dourada,
Na vida que o procura
Pela seara ceifada
A engoreta é companheira
Dali bebe a preceito
Vai a caminho da ribeira
Leva o amuleto ao peito
Separa o trigo do joio
Os cereais são seu apoio
Vida rude a premeio,
São segadores com brio
Na frente de uma ceara
Ceifam ouro “desafio”
Esta jóia tão rara!
De gavela em gavela
Um molho vai acabar
Mais parece uma aguarela
Acabada de pintar
Os bancelhos à cintura
Para os molhos apertar
Cortados com essa frescura
Para nos relheiros os juntar
Pichorra, água fresquinha
Á sombra a refrescar
Vai de palhinha e palhinha
Traz um feixe para juntar
A ceitoira bem afiada
É mais um dia de canseira
Depois da palha cortada
Faz a carreija para a eira
Num trabalho de canseira
Vivido à Luz do luar
Leva os molhos para a eira
Para seu cereal guardar
Molhos suores de vida
Pingos de amor e enlaço
De preganas sentidas
Carregadas em seus braços
É dia de malhadeira
Quem paga o mata-bicho
A mesa é posta na eira
Num abrigo mais nicho
O ancinho é companheiro
Há trabalho e rigor
Leva a palha pró palheiro
Debaixo de enorme calor
O colmo na eira espalhado
A espiga é tão grada
Com o malho é malhado
O pão de espiga dourada
Existe vinho tratado
O baile foi aberto
Anda o povo animado
Cada um sabe o que faz
Aqui existe harmonia
Carinho, afecto e paz
As raparigas solteiras
Bailam sem mais parar
Até a velhas gaiteiras
Vão para a eira dançar
É assim esta actividade
Rude mas sempre a rigor
Hoje eu sinto saudade
Das eiras de Vila Flor
Fernando Silva
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