segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Raíz da Minha Essência


A Selecção da Noite

Todos os dias havia jogo de bola, no campo do colégio, ou na praça. Não havia equipas definidas, era o que cada um de nós escolhia, entre tantas vezes que ali se jogou até que alguém se lembrou de colocar o nome de “A Selecção da Noite”, sim, porque só jogávamos à noite depois do trabalho, para alguns para outros depois das aulas, ou então nos Domingos de manhã. Começava-se a construir uma equipa para irmos pelas aldeias do concelho e não só, jogar à bola, conhecer outras pessoas, que acabava sempre com um lanche, onde todos se davam bem.
Ali não havia ricos nem pobres, toda a gente jogava, havia lugar para todos. Não foi necessário comprar os equipamentos, alguém os ofereceu, tínhamos que pagar apenas as chuteiras e as bolas, mas tudo bem, a malta queria era reinar, jogar à bola, fazer ginástica, ter preparação física, conviver.
 

Os bailes ao Domingo à tarde

Havia domingos em que ia aos bailes, na terra ou fora dela, e assim passava os meus dias, entre o trabalho e as namoradas, entre os bailes da Vila e os de outros locais, para onde ia sempre à pendura, pois não tinha qualquer tipo de veículo motorizado.
Depressa me cansei de andar de um lado para o outro, não tinha sítio certo, não era para mim tal vida, sempre gostei de ficar pela Vila, não sentia nada por ninguém, confesso que até havia raparigas bem engraçadas.
Foi então que permaneci mais pela vila, onde os bailes aos domingos em vários locais, faziam com que os jovens emergissem.
Dançava sem qualquer compromisso, aqui ou ali, não importava com quem, era necessário entrar no espírito do baile. Até que lá havia de haver alguém por quem me interessasse e foi o que veio a acontecer dias mais tarde, também estava na altura de me apaixonar por alguém que me merecesse e alguém que eu merecia. 
Os dias passavam com mais ou menos romantismo, até que um belo dia como que de um clique se tratasse, passou no Rossio uma miúda muita gira, interessante, que colocou o meu cérebro em orbita, perguntei aos dois amigos que estavam comigo no momento se conheciam tal rapariga, responderam que não sabiam. Mas afinal de onde apareceu esta boneca? Um deles respondeu-me:
- É pá então a rapariga acabou de passar por ti e tu já estás assim, não me digas que acreditas no amor à primeira vista?
- Lá isso não sei, mas o que te posso dizer é que esta miúda interessa-me e se não tiver namorado eu vou lançar-me de cabeça.
- Tu deves ser louco!

O amor à primeira vista

Não deixei de perguntar quem era a sua família, pois havia chegado de fora e eu não conhecia, murmurei para com os meus botões, “será que tem namorado?” Andei ali uns dias a indagar.
Tanto andei, tanto procurei que consegui o que pretendia, como o povo diz e com razão quem “desdenha quer comprar”, foi então que a pouco e pouco, dia para dia, as coisas iam correndo de feição. E em cada dia que passava mais me aproximava daquela rapariga, nos domingos ia aos bailes e se ela lá estava. Dançava com ela assim como o fazia com outras raparigas e ela com outros rapazes, pois não havia nada entre nós, contudo quando ela ia dançar com  outros rapazes, sentia qualquer coisa de estranho na minha mente,   parecia que no meu coração começava a ter espaço para alguém, quando a via sentia um aperto no coração. Numa das vezes que fui dançar com outras raparigas uma delas quase recusou a dança dizendo:
- Eu não sei se posso!!! Será que a Isabel não fica com ciúmes?
- Ciúmes? Do que é que estás a falar?
- Então a Isabel não gosta de ti?
- De mim? -perguntei eu - o que é que tu sabes que eu não sei?
- Não sabes por que não queres, deves é ir ao encontro da vossa felicidade.
 Fiquei um pouco baralhado.
No dia seguinte, passou por mim aquela rapariga, e quando o seu olhar cruzou o meu, pareceu-me que aquele olhar doce e comprometido tinha uma certeza, ela começava a gostar de mim, coloquei o meu olhar no dela, ela esboçou um sorriso, como que alguma coisa me quisesse dizer.
Se estava no Rossio quando ela passava sorria para mim eu sorria para ela, pensei várias vezes que aquilo não podia continuar assim, tinha que ir directo ao assunto, tinha que ver quando e aonde deveria arriscar. Passaram-se uns dias e eu sem possibilidades de me declarar, só que estranhei várias idas à mãe de água, dava-me a sensação que os cântaros da água não chegavam ao destino, ou então iam e vinham muito depressa. Comecei a pensar, “mas será que ela também está a pensar a mesma coisa que eu”, pois quantas vezes fosse à fonte quantas vezes eu a via e ela a mim. Quantas vezes perguntei a mim mesmo “o que é que se passa comigo, não me estou a reconhecer, então até aqui nunca tive medo de arriscar e agora estava a oscila”. Os dias passavam e eu nada, queria ter a certeza de que ela também estava a fim de namorar comigo.  
No Domingo seguinte havia os carrinhos na Praça, rapazes e raparigas caminhavam até lá, um local de divertimento de algum lazer, eu também fui e o chegar deparo com aquela rapariga, estava a andar nos carrinhos de choque, com um rapaz e voltei a questionar-me “mas o que se passa afinal? Ela tem ou não tem namorado?”
Quando a volta acabou ficou ali à minha beira, olhei-a disse-lhe olá e ela respondeu:
- Olá tudo bem?
- Podia estar melhor, parece que andamos a jogar às escondidas!
- Então porquê?
- Acho que há qualquer coisa que temos para contar um ou outro e quer eu quer tu parecemos estar com medo, ou será que não estou certo…
 Corou, mas foi bom, percebi que efectivamente havia que dar o primeiro passo. Contudo as outras raparigas que estavam com ela iam de quando em vez dar uma volta nos carrinhos e ela após a minha chegada permaneceu e como não tinha nada a perder perguntei-lhe:
- Vais andar de carrinho ou estás à espera do teu namorado?
- Não tenho namorado.
Fiquei desconfiado, mas pelo sim pelo não convidei-a para dar uma volta nos carrinhos, ela aceitou, fiquei radiante. Depois já com as amigas por perto estas riram, safadas, já sabiam alguma coisa e não diziam nada, também não era para dizer, cada um tem que semear para colher
Chegaram ao pé da Isabel e disseram:
- Nós vamos para o baile e tu já ficas não é?
Não respondendo, perguntei:
- Baile? Onde é?
Lembro-me que me disseram que era na Rua da Portela, mas sinceramente não me recordo da casa, baixo ou garagem de quem, pois os bailes sucediam-se de Domingo em Domingo, ora aqui ora ali, os namorados e não só depressa sabiam onde havia bailes, era um passar de informação tão rápida que se chegasse à Avenida alguém havia de dizer onde o baile era.
 Embora indeciso não sabia se havia de ir se havia de ficar, pelo sim pelo não, fiquei, mas não foi por muito mais tempo, o meu olhar foi seguindo os passos dela, até que ela se virou para trás, olhou para mim, como que de um convite se tratasse. Optei por ficar mais um pouco, não tardei a tomar a melhor decisão, e lá fui eu até à Portela. Quando entrei ela dançava com um rapaz que já nem me lembro quem, pela primeira vez que o nosso olhar se trocou disse-lhe  num gesto labial
- A seguir danças comigo?
Acenou com a cabeça que sim.

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