sábado, 29 de janeiro de 2011


Lágrima de Saudade

Vertiginosa,
 Fria,
Cai com certa melancolia
Uma lágrima do teu rosto.
São saudades,
Calafrios,
São mensagens, são desgostos.
De um coração partido
De um sentimento sofrido
Por um ser triste, apaixonado,
Que deixou meu coração parado
Por essa lágrima de arrependimento
Que rega o meu sofrimento
E envolta em paixão
Provoca no meu coração
Um arrepio constante
E essa lágrima saudade
É de amor…de verdade.


Autor Fernando Silva


Procurei-te


Caminhei para te procurar
Embora não sabendo onde te encontrar
Mas mesmo assim… procurei-te,
Desejei…sem te achar,
Não sei onde poderias estar
Neste mundo imenso…
Talvez a ver o mar!
Inflexível ao teu acreditar
Tendo um contemplar intenso
Porque a força da água
Leva a tua mágoa
Só que o mar é tão longínquo
Que não te posso encontrar
Quem me dera ser onda
E teus pés poder… beijar,
Para por fim ao meu sofrimento
Esta minha agonia
Mas nunca me digas adeus
Porque meu coração o teu queria
E bate debilitado
Porque não estares a meu lado
Por que sofro por não te ter
Sofro por não te beijar
Sofro por te querer
E sobre tudo por te...amar

Autor Fernando Silva

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Musa..meu sonhar


Espreito pela vidraça

Olho desta janela a vida…
E vejo como é bela a natureza,
E nesta Terra que me é tão querida
Quero reviver a sua... grandeza

Depois, por entre a vidraça
Vejo cair farrapos de neve
E este frio que trespassa
Porque esta casa não concebe

A neve cai gelada e fria
Este frio corta o meu coração
Mas a neve a todos contagia
No seu cair, na leveza, na paixão

Sobre os campos um manto branco
Refresca as culturas e humedece a terra
Os pássaros quebram o cântico
Nesta beleza que nunca encerra

Vista daqui esta paisagem
Refresca-me o corpo e a mente
Daqui a neve não é miragem
É simplesmente o agasalho quente

Das pedras por onde eu passo
Das plantas que eu adornei
Aqui não sinto cansaço
Nesta terra que para sempre... amarei 

Como és linda VILA FLOR 

Autor Fernando Silva

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Luz

Terna… Luz


Luz enegrecida pelo tempo,
Frouxa, constantemente constante
Que a escuridão sofrida consome,
Raio vertente… direccione
Que o tempo esconde,
Em penumbra nostalgia.
Que almeja na minha direcção
Saudades de criança nua,
Pedaço de vida na vida
Quantas vezes escondida
Muna minha sentida fissura.
Iluminas a linha da minha vida
Essa luz tão sentida
Reflexos de outros tempos
Meus apurados lamentos
Ilumina meus adventos
Sentidos sentimentos
De coragem e nobreza
Dessa luz devida
Que desejo sempre acesa
Nesta linha contida
No decorrer da vida…

Autor Fernando Silva

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Raíz da Minha Essência


Os amigos revivem a última noite

Como tinha ficado combinado do dia anterior, os amigos voltavam a reviver mais uma noite de recordações. Depois de ter falado um dos amigos referiu:
- Hoje não pode ser pois ontem já me fui deitar muito tarde.
-Eu concordo, só que estamos em vantagem em relação ao Paulo, a não ser que ele não se importe e voltamos amanhã!
-Amanhã! Então eu quero viver esta noite como se fosse uma daquelas noites ao luar, ir-mos pró terreiro, passar pela rua do saco, beber um copo em casa do Tiago e na Fonte Romana jogarmos ao pino e dedicarmos uma serenata às raparigas, tal como o dizíamos enquanto jovens.
Por fim todos concordamos em fazer isso.
E assim foi, mais uma noite de recordações, uma noite de alegria, de muita compreensão de muita paz, harmonia, amizade, todos juntos fazíamos um grupo forte, capaz de arrebatar fosse o que fosse, falar das nossas paixões, da equipa de futebol, a “Selecção da Noite”.
Giro foi quanto tocou a vez de esse amigo que tinha chegado nesse dia cantar a serenata, logo um de nós disse:
 - Não podes cantar muito alto senão a tua mulher fica a saber onde tu estás.
-É mesmo isso que vou fazer e quando a minha mulher me ouvir vais ver a luz do meu quarto acesa e a minha mulher vai pôr-se à janela, tal e qual o fazia quando eu a namorava.
- Amigo - disse eu, só tu para me fazeres desmanchar todo, então hoje é que vai ser, quando chegares a tua mulher vai estar à porta mais acordada do que nunca e vai agradecer-te de uma forma viril, grata pelo amor, pelo carinho, por ver que afinal tu és mesmo um romântico.
- Eu não vos disse que a noite prometia, então vocês ontem cantaram para quem afinal?
- Olha, cantamos a pensar nas namoradas da altura, só que não é a mesma coisa, é que tu casas-te com aquela para a qual dedicavas essas serenatas enquanto nós não.
- É verdade amigos vocês têm razão, significa que eu sou um privilegiado, como eu vos entendo…mas tudo bem… o que importa é que todos nós somos felizes, pois também nem todos sois culpados do que aconteceu.
E assim foi, esse amigo cantou para a mulher que apareceu à janela, que fez sinais de agradecimento, agora quanto ao resto, só eles e os anjos sabem.
 Foi de facto uma noite muito bonita, recordávamos todos os dias, tinha sido uma das noites mais objectivas, mais proveitosas, que havíamos tido desde que tínhamos chegado.
 Já noite e na companhia dos amigos habituais, a Fonte Romana era como que uma ida obrigatória todos os dias, onde passávamos bons momentos, onde se falava de tudo um pouco, entoávamos canções bonitas, contávamos anedotas, jogávamos à malha, saltávamos ao eixo, enfim brincadeiras de amigos.
Depois seguíamos pela Volta dos Tristes, se era tempo de fruta íamos palmar uma fruta aqui ou ali, e seguíamos até ao S. Sebastião, onde ficávamos a cantar mais um pouco.
Na Fonte de El-rei, descansávamos da corrida que por vezes tínhamos de dar, mas tudo acabava bem. Ali ficávamos muita das vezes até de madrugada, sem nos metermos com ninguém, sem arranjar problemas. A família sabia que era assim, por onde andávamos, então não havia preocupações nesse capítulo, fazíamos simplesmente aquilo que nos ia na alma, que nos alegrava, aquilo que nos fazia sentir verdadeiros amigos, amantes da terra, das suas tradições, das suas culturas, em vez de estar nos cafés a beber copos, passávamos a noite dessa forma.
Como foi lindo reviver aquela noite. Contudo ficou apenas um senão, não conseguimos o jantar convívio com as famílias porque mais uma vez um de nós teve de partir mais cedo, era a obrigação que o chamava. Então em solidariedade de todos para com aquele amigo não o fizemos, ficando para o ano seguinte.



O meu 1º. Trabalho

Um tio de minha mãe precisava de um ajudante, então falou com os meus pais e à noite quando estávamos à mesa o meu pai disse-me assim;
- Olha o tio da mãe precisa de um ajudante não queres ir?
Respondi que sim, e na segunda-feira seguinte lá fui trabalhar para Samões, saímos muito cedo de casa por que tínhamos de ir a pé. Quando chegamos o tio disse-me:
- Este trabalho não é bem para a tua idade, é natural que a princípio te custe um pouco, e depois lá vais indo.
Fizemos uma fornada de massa, juntando a areia com o cimento e a água, depois o senhor subiu para o telhado e disse-me:
- Agora pegas um balde de massa e traz-mo cá acima
Bem, não foi nada fácil, nunca tinha trabalhado e levar logo com aquele biscate… era duro. O trabalho continuou até à hora de almoço e mais ou menos ao meio-dia, o tio Mário, desceu do telhado e disse-me:
- Agora vamos comer, está na hora, vai buscar os sacos da merenda enquanto vou lavar as mãos e vais além aquele terraço e pegas uns guiços, fazes um feixe de lenha e trás para acendermos uma fogueira para aquecer o come.
Lá fui, só que pelo caminho murmurei para com os meus botões, “então o que o velho trás de comer para estar a fazer lume?” Voltei com a lenha e fizemos uma fogueira, quando começou a haver brasas, foi-as encostando a um lado, e ali colocou a grelha. Comecei a pensar “será que trouxe comida a contar comigo? O que é que o velho trouxe?”. Abriu a taleiga, e retirou uma panela que continha arroz de grelos, de peguilho já não me recordo o que fui, depois de aquecer o comer disse-me:
- E tu o que trouxeste?
- Não sei, mas eu só gosto de batatas fritas com ovo estrelado
E não é que o meu almoço era mesmo esse batatas fritas com ovo! Coloquei a panela sobre a grelha e quando a comida estava quente “atirei-me” a ela como gato a bofe, não sobrou nada, estava com fome e depois de ter acarretado com os baldes de massa até ao telhado, com mais fome fiquei.
Depois era o voltar à escola e quando esta acabava voltava de novo a trabalhar nas férias. Era sempre assim, num ano trabalhava-se numa coisa, para o próximo ano noutra, apesar de ser pouco, sempre ajudava para comprar qualquer coisa, que mais não fosse a roupa, para mim.




Um gostar diferente

Estão, passei a dar-lhe mais atenção, vi que aquele sentimento sublime, maravilhoso era recíproco, que tinha pernas para andar, foi fortalecendo a cada dia que passava.
Foi então que entre o trocar de papelinhos, nos quais tinham os versos mais bonitos que até ali alguém me tinha dedicado e palavras lindas próprias de filme de amor, que conheci alguém especial. Não olhava para outra miúda como olhava para aquela, era linda, tinha um corpo de mulher, inteligente, capaz de competir com outras miúdas de mais idade, sem complexos, com muita personalidade, apesar da tenra idade.
No Rossio um olhar, na Fonte uma palavra, no liceu um recado. Nos intervalos das aulas o tempo passava depressa, quase não dava para vê-la, mas depois chegava a hora do almoço, aí juntos descíamos a rua, na companhia de outros colegas, um pouco a medo, pois havia sempre que ter atenção, não fossem as más línguas, estragar o que estava bonito.
Um dia as raparigas da minha turma organizaram um jogo de andebol, no liceu, contra as raparigas da turma dela, imaginem quem foi árbitro, eu, só podia ser, então acho que me portei mal, devia ter facilitado a vida da equipa onde ela jogava, não o fiz e perderam.
Escusado será dizer que só faltou bater-me mas como a amizade era mais forte acabou por tudo ficar bem.




Trabalho nas férias

Terminadas as aulas era tempo de deitar mãos ao trabalho. Erguer cedo e chegar tarde, era assim de segunda a sexta-feira. Um martelão de ferro que já nem sei o peso, foi o meu trabalho de alguns dias. Chegava cansado, pois o trabalho era muito árduo, não havia tempo para grandes conversas, o trabalho tinha que estar feito porque a seguir tínhamos de carregar um camião de pedra para a britadeira, mais umas pedras e lá voltava o camião para ser carregado, era assim o dia à dia.
Para os colegas de trabalho, já habituados a este ritmo, era mais fácil para do que para mim e para os outros que íamos fazer aquilo pela primeira vez porém, havia determinados truques que era preciso aprender, como partir a pedra com mais facilidade e conhecer o correr da pedra. A pouco e pouco as coisas lá iam andando. Depois foi o trabalhar com o compressor, fazer buracos com uma broca, para colocar a dinamite e o rastilho.
O final de semana era para descansar desse trabalho, contudo havia o trabalho de casa, ou seja as hortas, a lenha para a lareira aquando do Inverno, não tinha descanso, era preciso ajudar. E lá saíamos no Sábado ou no Domingo de manhã, enquanto os rapazes da minha geração aos Domingos iam à missa eu ia para a Massarrolha, de tarde iam divertir-se eu continuava no mesmo sítio. Não havia volta a dar-lhe era como que uma obrigação, ser pobre tem destas coisas, enquanto uns precisam de trabalhar para ter dinheiro, outros há que têm dinheiro sem trabalhar. Uns fabricam o pão para o dia à dia, outros não precisam sequer de se preocupar com semelhantes coisas, tudo lhe vai ter à mesa.    


Recordar os amigos do Liceu

Recordo que do grupo de amigos e daqueles que estudávamos, uns no 6º. Ano, outros no 7º. Ano de escolaridade, as diferenças de idade eram muito poucas, um ou dois anos no máximo três e, era a altura de viragem, deixarmos de ser miúdos e passarmos a ser adolescentes, com mais responsabilidade.
 A minha primeira paixão preparava-se para chegar, pois começava a despertar em mim, o não gostar de estar sozinho, o não gostar de estar muito tempo sem ver aquela que tinha escolhido para minha namorada, caso ela assim o entendesse. Gostar de a olhar, como eu me sentia bem quando ela me olhava, passava a ter um sentimento diferente, algo que até ali, nunca havia sentido, parecia que me faltava algo que preenchesse um espaço, tudo era diferente, passei a gostar de alguém que até ali não conhecia, que me dava atenção, que fazia com que tudo o que até ali havia acontecido tenha sido apenas um brincadeira de crianças.




A catequese

Gostei sempre de ensinar, mas nunca me passou pela cabeça ensinar a doutrina. Fui falar com Senhor Padre Cassiano Faias, que Deus o tenha em bom lugar, por que já não pertence ao número dos vivos, e perguntei se poderia ensinar catequese aos mais novos. Respondeu que sim e depressa entrei naquele espírito, ajudado pelas raparigas e rapazes mais ou menos da minha idade. Deram-me um livro que falava sobre de Deus e tudo correu bem, pois o objectivo era que aqueles miúdos fizessem a comunhão solene, que havia de acontecer no dia de Corpo de Deus.
Nesse dia, as crianças apareciam mais bonitas do que nunca, com os pais radiantes, era para eles uma festa. Embora me tivesse dedicado de alma e coração a esta função, o meu objectivo também era outro, estar o mais perto possível da jovem que eu tanto gostava.  
O Rossio era um local de passagem mas também um local onde nos divertíamos bastante, no jogo de futebol sem bola, no jogo do mata, onde eu a via passar.



As passadeiras no Rossio

Aproximava-se o dia das passadeiras e como era costume os meus pais e os meus vizinho, entre outras pessoas que viviam na Portela, faziam as passadeiras, com musgo, maias, flores, cedro entre outros.
Toda a gente se empenhava em fazer o melhor, uns iam buscar o musgo, outros as maias, outros as flores, claro está que era uma festa apesar do trabalho que aquilo dava. Foi então que entre idas ao musgo, às maias e às flores, que uma rapariga se atravessa no meu caminho, com declarações de amor, mas como não estava para li virado, não dei grande importância, pois gostava da outra miúda e a verdade seja dita “a estrada da Beira nada tinha haver com a beira da estrada”, mas algo ia acontecer menos bom, que havia de dificultar a minha relação, não o devia ter feito, mas pronto, a vida é assim, sofri muito com esta situação, talvez tivesse sido a maior lição de vida que até ali me acontecera.
Depois foi o afastar em definitivo daquele possível romance, em que a vida pareceu desmoronar-se, andava triste, não tinha vontade de nada, continuei a estudar só que nada feito, não conseguia, fiquei com um vazio no meu peito que deixei de estudar e fui trabalhar.
                Recordei as festas do S. Sebastião, a 20 de Janeiro, do engalanar do Terreiro nesse dia, toda a Vila emergia para o Largo do Terreiro, onde entre copos de vinho e cerveja, tremoços e garrafinhas de licor, se passava uma noite ao som do gira-discos da aparelhagem. Todo o povo dançava, sem luzes psicadélicas, sem atropelos, onde alguns de nós começava e outros davam os primeiros passos na dança, uns mais afoitos no que às raparigas dizia respeito, pois para tudo é necessário ter-se jeito e alguma audácia, saindo muitas das vezes de perto dos familiares mais directos das raparigas, para que assim não se aperceberem que um possível namoro estava eminente, então era complicado, não podíamos dar bandeira, se um de nós andava com uma moça debaixo de olho, todos nós sabíamos e aí tudo fazíamos para que outros não tivessem possibilidades de dançar, pois o grupo era unido e todos pretendíamos a felicidade uns dos outros.
Era assim que começava uma pequena e grande paixão, muita das vezes as famílias não gostavam vá lá perceber-se porquê… Enfim, ideias! Que muitas vezes acabavam por não surtir efeito.
Contudo fica a recordação pois dois de nós deram início a um namoro que havia de os levar ao casamento…
- Então e o S. João? - disse outro.
Pois é, nem sempre se realizava no mesmo sítio, ora na Praça Nova, no Terreiro, no pelourinho, mas onde mais se fazia era na Praça, até porque era mais central e tinha características próprias, desde logo o lago do chafariz, onde colocavam os três Santinhos, Stº. António, S. João e S. Pedro, os arquinhos e balões pendurados por entre as árvores que davam uma flor tão bonita, tão cheirosa, onde o espaço dava para tudo, a arrematação das prendas, o assador das sardinhas e do churrasco, onde se podia comer uma bela de uma sardinha. Que saudades… Como era tão simples a vida, como as pessoas se gostavam, se um ano era a Direcção do Vila Flor Sport Clube, no outro era a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Flor, pois tinha de haver harmonia.
Dava para tudo, até para se arrematar o cálice de vinho do Porto dedicado a uma donzela, como era giro olhar alguns namorados um pouco perturbados pelo facto de aquele cálice ser dedicado à sua amada, então, havia que puxar os cordões à bolsa, pois só assim a sua cara-metade, não dançava com outro rapaz e até quem sabe um pretendente escondido e que até ali nunca deu a entender o quanto sofria sozinho.
Mas a vida não era só Festas, tínhamos que trabalhar, uns no duro outros tinham que mostrar ao fim do ano lectivo o resultado de um ano de trabalho.
Nas férias de Verão, aqueles mais pobres tínhamos que trabalhar, no que aparecia, era o arranjar de uns trocos para podermos ajudar a família, que tantos sacrifícios passavam para nos sustentar, era o trabalhar de sol a sol, era o não haver Domingos nem Feriados, pois as hortas tinham de ser regadas e tratadas, para dali colhermos as hortaliças que haviam de fazer parte do alimento diário, era necessário fazer tudo isto para não se recorrer ao mercado, porque o dinheiro era pouco, não dava para tudo, ou melhor não dava para nada.
 Quantos cântaros de água eu e as minhas irmãs carregamos dos tanques onde as senhoras lavavam a roupa das famílias, sim porque máquina de lavar não havia, para regar a horta da tapada, que era um terreno de família, onde tínhamos da batata, ao feijão, da cebola, à alface, cenoura, alhos, grelos, couves, enfim um pouco de tudo.
Por vezes aos Sábados à noite ia ao cinema, que passava na Casa do Povo, como me lembro, dos vários filmes, os preços do bilhete variavam entre os 12$50 o geral e 15$00, o balcão, era o que tínhamos.

Ajuda a um amigo

Um dia um amigo veio ter comigo um pouco abalado, triste, e disse-me:
- Nando, será que podias falar com o teu pai para que eu possa passar esta noite em tua casa?
- Por mim tudo bem, vou falar com o meu pai e já te digo alguma coisa.
Há noite quando o meu pai chegou pedi-lhe se esse amigo podia passar ali a noite, pois havia tido um desentendimento familiar e não podia ir para casa. Meu pai depois de se inteirar de tudo, pois não queria problemas com ninguém, depois de falar com o Zé, decidiu que sim. Após aquela noite outras noites e dias se passaram, acabando por ficar.


O Teatro

Foi por carolice de um casal que embora não fossem desta terra aqui se haviam radicado há muitos anos que, um dia pensaram em fazer um teatro de variedades, onde houve um pouco de tudo. E assim foi a pouco e pouco foram aparecendo uns amigos, que colocaram as ideias no papel e foram ao encontro de pessoas que estivessem com vontade de fazer teatro, uma coisa diferente.
Vila Flor ao que eu me lembro não tinha um grupo de teatro, era por demais evidente de que tinha de haver alguém que colocasse os jovens e os menos jovens a fazer qualquer coisa diferente. Foi então que através desse casal tudo começou, disponíveis quanto ao seu ensinamento mas também no que concerne ao local de ensaios, as suas própria casa. Nunca ninguém tinha feito nada assim, que envolvesse tantos jovens, que trouxesse uma paixão desmedida por tudo quanto se fazia. O importante era o representar, levar as pessoas ao teatro, fazê-las sair de casa, terem uma noite diferente depois de tanto trabalho semanal.
O grupo começava a formar-se, os entendidos na matéria opinavam quais os papeis que cada um devia representar, ensaios e mais ensaios, trabalho muito trabalho, compreensão uma grande amizade, para que tudo corresse na perfeição, foram várias noites perdidas e quando chegou o momento de representar, fomos fazê-lo na Casa do Povo. Tudo correu muito bem, as pessoas que  assistiram não deram o tempo por mal empregue, gostaram imenso, poderia ter sido o tiro de partida para a continuação de um grupo teatral, a formar nesta terra, só que nem tudo são rosas, e as pessoas com responsabilidades nunca se preocuparam com a cultura, pensavam na festa da terra e pouco mais a parte lúdica ficava-se por aqui. Foi com muita pena que tudo acabou, quantos de nós poderíamos ter seguido mesmo na terra aquele trabalho, só que mais uma vez as pessoas envolvidas não eram as indicadas, não eram credíveis na ideia de muita gente, por se tratar de pessoas do povo, de pessoas com outras ideologias, mas o que importava ser deste ou daquele partido se o que estava em causa era o teatro.   

A visita da autoridade

Um dia, muito cedo, ainda a noite era uma criança minha mãe foi-me chamar, fiquei admirado, estranhei a hora a que a minha mãe me chamava, abri a porta do quarto e ela disse em tom baixinho:
 - Olha meu filho a nossa casa está cercada de Polícias.
- Polícias? Então o que se passa?
- Olha filho não sei, mas não nos vão deixar sair de casa, se calhar não podes ir para o colégio.
Perante isto abri a janela do meu quarto e qual é o meu espanto quando vi que no Rossio havia vários polícias, fui ao quarto de meus pais, e perguntei:
- Mas o que é que se está a passar aqui?
- Olha filho que Deus te responda porque eu não sei – disse meu pai.
Amanheceu e não sei que horas eram quando alguém bateu à porta, o meu pai perguntou quem era, responderam da rua:
- Daqui fala a polícia temos mandado de busca e pretendemos cumpri-lo.
Meu pai abriu a porta e os senhores entraram, revistaram a casa, as minhas irmãs mais pequenas tiveram de se levantar, algumas choravam, era de facto uma coisa nunca vista, havia muitos “mirones” a ver.
 A polícia não deixava ninguém entrar, então resolvi tentar sair para ir para as aulas, dirigi-me a um polícia e disse-lhe:
- Tenho que ir para o colégio, como é, vão deixar-me sair ou não?
De pronto, um dos que mandava disse:
- Só passas depois de te revistar.
- Então passe o visto que entender. E já agora o que procuram?
- Armas - respondeu o polícia.
- Armas - disse eu em tom irónico - só se forem as facas da cozinha.
Aquele homem olhou-me enraivecido e em tom ameaçador disse:
 - Parece que queres brincar!!! Mostra cá a tua mochila. Tens sorte, não tens cá nada.
- Nada não, tenho livros, ou o senhor pensava que levava um chaimite dentro da bolsa?!
Olhou-me de alto a baixo, como quem diz, “estás aqui estás a come-las”, mas não.
Porém aquilo que os senhores da Polícia procuravam era armas de fogo, armas de guerra, que não encontraram, obviamente. Contudo, ficou tudo quanto se passou na nossa memória, andei ali uns dias a bater mal, passei dias muito só, as pessoas olhavam para mim como que desconfiadas, não foi fácil, voltar a conquistar o meu espaço, houve pessoas que me deixaram de falar, chegou ao cúmulo de colegas de escola saírem de um determinado grupo, porque eu estava, o que fez com que me tivesse tornado agressivo.
Havia pessoas que acreditavam que na minha casa havia armas, pelo facto de os meus pais terem alugado o baixo (rés-do-chão), a uns amigos da LUAR. Contudo, os verdadeiros amigos estiveram sempre do meu lado, apoiaram-me sempre.
Muita das vezes não me sentia bem e faltava às aulas, não tinha vontade de estudar, as pessoas faziam juízo de valor sem conhecer nada de nada, parecia um condenado que nunca teve direito a defesa, e então fui julgado por alguns colegas de escola.
A política começou a andar de boca em boca, por vezes e durante os intervalos das aulas discutíamos ideologias políticas de cada um, fazíamos sessões entre estudantes, na própria sala de aulas, quem defendia isto ou aquilo, quem estava mais para um lado do que para outro, obviamente que pela personalidade de cada um de nós fazíamos com que alguns colegas nos seguissem, havia sempre um ou outro que cuja aceitação era por mais que evidente, outros que não gostavam sequer de falar. No fundo havia um movimento estudantil, que era composto por indivíduos de vários estratos sociais, mas que defendiam as mesmas coisas.    
                Pelo meio as minhas paixões não acabavam e se terminava uma começa outra, pois tinha que esquecer tudo quanto havia ficado para trás, não tinha que chorar pelo leite derramado e parti para vários lados e em várias direcções, até que aparecesse alguém que fizesse esquecer, tudo quanto para trás tinha passado.


 O acidente de automóvel

No dia em que a minha irmã Susana foi baptizada, foi o bom e o bonito, pois já noite saímos cinco amigos num carro, fomos dar uma volta, só que, depois de andarmos uns bons quilómetros alguém falou em ir até Carrazeda. Estávamos alegres, também não era para menos…até que ao fazer uma curva, o condutor perdeu o domínio do carro e despistamo-nos.
Depois do veículo parar, eu, e mais dois, que ia-mos no banco de trás, saímos do veículo e fomos procurar o condutor e o pendura, enquanto os procurávamos uma voz desesperada soltou um grito ao mesmo tempo que colocava as mãos na cabeça e disse:
 - Ai minha mãezinha que amanhã já não vou para a tropa.
Sim, pois ele queria ser Ranger e até quem sabe seguir a tropa, e aquilo podia ser o fim.
Eu e o outro amigo sorrimos com tal desabafo enquanto procurávamos os dois irmãos, foi então que depois de termos chamado várias vezes um dele respondeu:
- Estou aqui!
- Aqui aonde? Não se vê nada!
Fomos em direcção à voz que nos havia respondido até que encontramos o pendura e um pouco mais à frente o condutor. Estavam os dois vivos, o que era importante mas o Ford Capri ficou todo desfeito.
Um senhor do carro de praça, parou ao se aperceber do despiste, chamou os bombeiros, a G.N.R. e lá fomos para o Hospital de Carrazeda de Ansiães, onde depois de ter verificado que estava tudo bem viemos para Vila Flor, contudo achei curioso as pessoas no local a darem o seu palpite, sem se aperceberem que alguns de nós ali nos encontrávamos, diziam coisas do género: “da maneira que o carro está quem ia lá dentro morreu” ou então “não se safa”, outros diziam “estavam aqui a dizer que eram quatro ou cinco, um deles morreu a caminho do hospital da Vila, (Carrazeda), dois já foram para Mirandela”, coisas assim, mas o melhor é que todos estávamos vivinhos da silva, graças a Deus. 
Já em casa, onde entrei sem que os meus pais se apercebessem, fui para a cama mas não conseguia dormir, fechava os olhos e só via o carro a despistar-se, foi assim durante vários dias, até que fui esquecendo, não tínhamos ganho para o susto.
Dias mais tarde pensei ir para o estrangeiro, tinha amigos que me levavam, andava com a ideia de sair da terra, tentar outra coisa, fazer o que muitos fizeram dar o salto, viver noutro local, arranjar trabalho fosse no que fosse e com isso poder ajudar os meus pais, já que na terra ganhava-se muito mal, a maior parte dos rapazes da minha geração foram trabalhar nas obras, só que a minha ideia era ir para o estrangeiro. Queria ter dinheiro, coisa que até ali raramente tinha, pretendia construir uma vida melhor, falei com alguns amigos que estavam fora e perguntei como era, o que é que tinha de fazer, se quando eles fossem me poderiam levar, tendo obtido o sim como resposta.
                Na noite que antecedeu a partida desses meus amigos para o estrangeiro não dormi em casa, foi a primeira vez que o fiz. Durante a noite pensava na família e tanto pensei que, quando os meus amigos passaram para me irem buscar ao local combinado eu já lá não estava. Tinha tanta vontade de ir mas pensava nos meus pais e a vontade passava, o amor dos pais era mais forte, a terra era mais acolhedora, não sabia o que me esperava, era a primeira vez que saía de casa, não estava habituado aquilo, optei por ficar. Queria ser feliz naquela terra, havia de construir família, nunca fui dado a grandes aventuras, tinha o meu espaço, embora não tivesse muita coisa, tinha os meus pais, as minhas irmãs, o meu tio.































domingo, 23 de janeiro de 2011

Oração


Montes das Capelinhas



Lugar sagrado, sitio adorado,
Onde sempre te vou rezar
E levo ternura no meu olhar
Agradeço a Deus todo o seu amor
Peço pelos meus em seu louvor
A outros que tenham dor
Este monte de paixão
Este pedaço de céu
Onde o meu coração
Se abre ao teu
Jesus adorado
És meu mestre e professor
Vou estar a teu lado
Meu Divino Senhor
Os Santinhos da serra
Velam por esta terra
Que faz da razão...a vontade...do coração.

o sublime dos sentimentos


O amor é...


Um gostar, mas gostar sempre
Ser igual e ser diferente
Como as ondas do mar
Que ninguém as consegue derrubar
Como um pássaro livre e voador
Que ninguém vai prostrar
Amar sem sentir a dor
Um gostar diferente
Uma montanha de gente
O amor como as ondas do mar
Que seguem sem nunca parar
Um sentimento grandíloquo
Que quantas vezes parece pouco
Mas na sua grandeza imune
Ama e também assume
Que o mais elementar da vida
É amar um ser, sem o ver

Autor: Fernando Silva