sábado, 19 de fevereiro de 2011

Raíz da Minha Essência

O início do namoro com a Isabel

Era a primeira vez que ia dançar com ela com outros pensamentos, tê-la nos meus braços passava a ser um desejo, querer tê-la só para mim também. Era a primeira vez que sentia que tê-la era muito bom, pretendia de uma vez por todas acabar com esta situação. Por vezes tinha medo de me apaixonar e sofrer uma decepção, muita coisa passava pela minha cabeça, outras namoradas que tive e que não tinha dado certo porque também não era para dar…
Enquanto a música tocava perguntei-lhe se outros discos se poderiam seguir, ao que ela respondeu que sim.
 Depois da música acabar permaneceu junto de mim, penso que ficou no ar perante todas as pessoa que ali se encontravam, que a partir dali, o Fernando e a Isabel, eram namorados. E assim foi, conversamos, falamos um pouco de nós, começamos a conhecer-nos melhor, fiz-lhe um convite, talvez aquele que ela já deveria ter ouvido uns dias antes, perguntei-lhe se queria ser a minha namorada, sabia que dia menos era isso que iria acontecer, sentia-o, pressentia que algo ia mudar na minha vida, que aquela rapariga fazia o meu género, que estávamos bem um para o outro, que havia de nascer em nós um grande amor. 
Nesse dia à noite estava no Rossio e um amigo passava de bicicleta, parou conversamos um pouco e disse-lhe:
- Deixa dar uma volta na gingara.
 E lá fui, obviamente até à Portela, pois se a Isabel morava aqui tinha que ir, mas não a vi, contudo e depois de entregar a bicicleta ela passou pelo Rossio, gostei de voltar a vê-la, fui ter com ela e disse-lhe:
- Sei que ainda é muito cedo para estarmos juntos para que as pessoas nos vejam juntos, mas no Domingo gostava de te vir buscar a casa, ao que me respondeu:
- De facto ainda é cedo para ires buscar-me mas eu venho ter aqui às duas da tarde.
E assim foi, no Domingo por volta das duas da tarde a minha amada chegava ao Rossio, para passear.
Saímos fomos até à Avenida, onde depois de uns dedos de conversa, decidimos ir ao baile, dançamos quantas vezes nos apeteceu.
Todos os dias nos víamos, de uma maneira ou de outra, até porque havia de ter algum cuidado, enquanto os pais não soubessem.
Mas a vida continuava, entre o trabalho e as brincadeiras, o jogo da bola no Campo do Colégio, o visitar a Fonte Romana, a Volta dos Tristes, o passar no Arco de D. Dinis, eram como sede uma obrigação se tratasse.
 Apesar de começar a ter o coração ocupado as visitas àqueles locais ocorriam diariamente, os amigos continuavam a encontrar-se regularmente, apesar de uns namorarem na terra outros fora dela havia que manter a nossa boa relação. Tudo fazíamos para que o bom relacionamento se mantivesse, pois as namoradas em nada faziam mudar a nossa relação, porém as conversas em torno das actuais namoradas nada tinha a ver com aquilo que antes havíamos vivido, o cantar e dedicar a esta ou aquela já era diferente, as serenatas tinham os mesmos personagens mas em alguns casos direcções diferentes. No meu caso para que a minha namorada me pudesse ouvir tinha que pegar um megafone, enquanto outros até a falar baixo se ouvia nas casas dessas damas.
O namoro do Zé e da São

Os dias passavam e o Zé começava a gostar da São. Após vir da tropa deram a conhecer aos meus pais que se gostavam e começou o namoro entre um amigo a quem eu tinha ajudado, e a minha irmã mais velha. Logicamente que ao principio os meus pais ficaram um pouco embaraçados com isso, mas no fundo queriam a felicidade da filha.
Mais tarde o Zé fez o pedido de casamento, todos reunidos na sala, embora eu já soubesse do que se iria passar não disse nada para não estragar a surpresa. Depois do pedido o meu pai disse:
- Sabes Zé é a minha primeira filha, apesar de muito nova é ela que quando a mãe não está segura as rédeas desta casa, vai custar-me muito, porém o que mais me importa é a felicidade da minha filha, e se vocês assim querem, que seja feita a vossa vontade.
Parece-me que ainda estou a ver o meu pai, muito pensativo, um pouco tenso, de vez em quando dizia-lhe:
- Então, agora o que é que quer, o senhor não casou, a minha irmã também quer casar e aí não há nada a fazer.
 Do alto do seu respeito empreendedor, dizia:
- Pois é, quero ver quando tu estiveres no meu lugar como vais reagir.
- Olhe meu pai, Deus queira que esse dia aconteça e que o Senhor esteja cá para ver.
- Então vou gostar de te ver no meu papel, quero ver como tu reages a esta situação.
- Há-de ser muito bonito e um bom sinal, é um sinal que o senhor é avô e se prepara para ser bisavô. 
  
O Rancho (contradança)

Era a segunda vez que ia participar nesta representação só que este ano era diferente já tinha alguma experiência de outros anos e tínhamos por obrigação de fazer melhor. Começaram por escolher os pares, nesse ano fiz par com a minha irmã Teresa. Depois foi o escolher das letras e das músicas. Os ensaios decorriam nos bombeiros, nessa altura sugeriram que fizéssemos outras letras para algumas das canções que iríamos cantar, então fiz alguns versos, que foram do agrado das pessoas e começamos a cantá-los. As ruas da vila engalanaram-se para nos receber, muita gente a assistir nos locais onde dançávamos, cada dança com seu significado, cada dança com sua canção.
Embora gostasse de tudo quanto envolvia a contra-dança, havia uma dança da qual eu gostava em particular, que era a dança do mastro, que consiste num pau que fica ao alto, e é agarrado por uma homem, uma trança, trança essa que depois se desfaz, voltando tudo ao inicio. São dançares bonitos, que levam muito trabalho, muita dedicação, é preciso muita disponibilidade para que tudo corra bem e acima de tudo que as pessoas se entendam. Penso que embora tenham passado tantos anos, ainda hoje éramos capazes de voltar a fazer as danças.
 O meu namoro com a Isabel, ia de vento em popa, os pais tinham aprovado, o que acabava por ser bom para nós, porque nos preocupava esta situação, pois namorar às escondidas poderia ser bom por um lado mas era mau por outro, e assim podíamos aparecer juntos, que já não havia os “contos e ditos”, que o povo gosta tanto, embora nunca tenha dado ouvidos a essas coisas.
As passadeiras no Dia de corpo de Deus

Era o tempo das passadeiras nas ruas, o dia de corpo de Deus, estava a chegar, voltava aquela azáfama de ter tudo arranjado a tempo e horas. Nesse ano a nossa tarefa era ainda mais árdua, mas gratificante, porque tínhamos a percepção de que as pessoas adoravam. Quem queria ajudar ajudava, uns de uma maneira outros de outra, tudo trabalhava com uma finalidade, colocar a nossa rua mais bonita.  
Nesse dia eu, a Isabel, o Zé e a São, saímos juntos, como o fazíamos várias vezes, fomos tirar fotografias para o Hospital da terra, passeamos pela Avenida e depois cada um foi para seu lado, tinha de ser assim, apesar de amigos. Quanto a nós íamos dançar um pouco, o que fazíamos sempre, havia bailes todos os domingos, nos bombeiros, na sede do VilaFflor Sport Club, entre outros locais, sempre com muita gente, eram diferentes de hoje em dia, não havia discotecas, contudo qualquer local dava para dançar.
 As coisas foram acontecendo a pouco e pouco. Passei a encontrar-me diariamente com a Isabel, era importante para ambos que assim fosse. Os dias iam passando e quando chegou a altura fiz o pedido de casamento.

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