quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CRISE

Democracia onde está?
Um cibo de pão na mão
O velho Grundig a seu lado
Vai esquecendo a solidão
Ouvindo o velho fado                          

Retira do pobre bornal
Pedaços de alimento
Mata a fome abissal                                                
Que lhe provoca sofrimento

Não lê jornais
Não vê televisão
Não sabe mais
Desta Nação

Se alguém algo lhe oferece
Desconfia dessa esmola
Depois, comovido agradece
E coloca na sua “sacola”

Passa os dias sorrindo
A quem lhe dá amor
Com outros vai repartindo
O pão de enorme valor

Vive a vida resignado
Pelas contingências da vida
Por tantos mal tratado
Nesta sociedade perdida

A troika não é culpada!
Governantes também não?
É a Democracia desorganizada!
Que lhe retirou o pão?

Se isto é Democracia
Mudem então de cenário
Outra medida não queria
Este velho solitário
 
Da crise não fala
Mas outra coisa não conhece
Do que mais se rala
Da Democracia que não aparece

Um dia aparece desfocada
Nem ele quer acreditar
Nesta Democracia desnorteada
Que não sabe onde vai parar

Para onde me levas Democracia
Se já nem um cibo de pão
Me resta por companhia
Neste Mundo “cão”

São rijas as tábuas do banco
Não consigo sarar as dores
Quantos dias, perduro em branco
Mas não é de dissabores

Isto já não vai com palmas
Vejo o povo, de bolso vazio
Aqueçam as nossas almas
Porque morremos de frio

Despede-se do dia, triste
Entro na noite amargurado
Será que a crise existe
Para algum deputado?

Ele que não conhece a crise
Com ela convive diariamente
Para que outro não precise
Mudem a crise para sempre

Medita aqui deitado
Sofre até de pensar
Este povo está entalado
Com a forma de governar

Autor Fernando Silva

3 comentários:

  1. Este poema, pela forma e conteúdo, faz-me lembrar outros, que foram escritos por alguém "Que Deus já lá tem..."
    Senti uma saudade imensa!
    Gostei muito!
    Parabéns!

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  2. Tal como este solitário homem, o poeta precisa de ter "solidão" para posteriormente repartir sentimentos tão emotivos. Ao ler o seu comentário fiquei bem comigo mesmo. Obrigado por gostar do que faço.

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  3. Mais uma vez focas-te os pontos cruciais, aquele que nada tem (o Sem abrigo) e aquele que nada lhe falta (o deputado). Este último à nossa custa, claro.
    É esta a democracia que temos, mas nós é que temos a culpa, limitamo-nos a votar e depois os políticos que governem. Uma democracia saudável tem que ser participativa, quando o povo deixa tudo nas mãos dos políticos, eles em vez de nos governarem, governam-se eles e os amigos.

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