domingo, 24 de outubro de 2010

Raíz da Minha Essência


Encontro com um amigo

Saí. Queria rever os amigos de infância e queria saber se todos estavam na terra, se tudo estava bem com eles e com os seus familiares, pois já alguns anos não via muitos dos amigos que deixei entre outros que partiram antes de mim. Queria saber do estado de alma de cada um, como tinham passado este tempo sem os ver, que novidades tinham para me contar, se havia mais família….
 Ao chegar à meia laranja alguém me chamou:
- Nando, Nando!
Pareceu-me reconhecer aquela voz, era-me familiar apesar de já há algum tempo a não ouvir. Para ter a certeza deixei chamar outra vez. Aí sim, não tive qualquer dúvida, era um amigo, um amigo de infância que já há algum tempo não via e tal como eu visitava a Terra pois as saudades eram muitas, da família, dos amigos e da Vila, a nossa terra-natal, que tantas recordações nos trazia, que tantos momentos lindos nela tínhamos vivido.
Depois de nos cumprimentarmos, convidei-o a beber um cafezinho mesmo ali, ao que ele me disse:
- Olha, hoje não tenho grande disponibilidade, porque vou para uns anos de um familiar, e até já estou um pouco atrasado, mas fica para amanhã.
Tudo bem! – respondi - amanhã a gente vê-se por aí, ou então dá-me o teu contacto que depois ligo-te, é que já liguei várias vezes para ti e não me respondes.
- Tens razão – respondeu -  troquei de operadora há meia dúzia de dias e não enviei a alteração.
 - Pois é – referi eu.
- Temos de nos juntar não sei quem está por cá, pois só cheguei hoje e não fui a lado algum. Tenho andado a tratar de umas coisas, mas vamos reunir o pessoal que houver e partir para a noite da nostalgia - sugeriu ele.
- Tudo bem - disse eu - é mesmo isso que está a fazer falta: voltarmos aos velhos tempos, dominarmos a noite, acompanhar o luar, entregar-mo-nos às recordações de todos nós, da nossa Terra, das coisas lindas que ficaram na nossa rotina.
 Depois de termos trocado os contactos, esse amigo seguiu caminho e eu fiquei. Todavia aquilo que tinha recordado durante a ida às capelinhas, não me saía da cabeça, fui até à praça nova, onde antigamente se fazia a feira, onde se jogava à bola, ao pião e se fazia o S. João. Ali fiquei mais um pouco a recordar o tempo em que era miúdo e ali tantas vezes fui feliz, no jogo da bola, no colocar o meu pião a rodar, das minhas brincadeiras próprias de crianças, dos bailes do S. João.
Tantos dias ali vividos intensamente, os amigos que comigo partilharam as brincadeiras próprias de garotos, quantos golos, quantas defesas, quantos cantos, quantos livres, quantas caneladas levadas e dadas naquele local, que por vezes o maior adversário eram as arvores, onde a bola batia, e teimava em não entrar, quantos piões quebrados pela força de outros colegas mais velhos e que faziam parte da mesma escola, quantas quedas, mas tudo passava, não havia rancor, obviamente que quando se perdia era mais doloroso, mas perdia-se hoje ganhava-se amanhã.
Engraçado, não havia árbitros nem fiscais de linha, tudo se aceitava na maior das compreensões, era a pureza na verdadeira aplicação, todos quantos aparecessem entravam para jogar, toda a gente tinha o mesmo direito. Mudava aos 5 acabava aos 10. Havia tempo para tudo isso, e para mais, pois não era só o futebol mas também outras brincadeiras. Recordo os jogos de hóquei em campo de cimento, situado sobre a sede do Vila Flor Sport Club, onde qualquer pau dava para fazer de Setique, todos quantos ali jogávamos tínhamos a noção das coisas, onde as balizas eram duas pedrinhas de cada lado do campo e mais tarde já eram de madeira, feitas a contento, tendo algum de nós feito com o auxílio de familiares. Os setiques que mais pareciam de profissionais, mas era assim a simplicidade das coisas, dos brinquedos os quais nós fazíamos para podermos brincar.
Depois foi o recordar do S. João, dos bailaricos neste recinto, do bazar, das sardinhas e do churrasco.

Sem comentários:

Enviar um comentário