domingo, 24 de outubro de 2010

Raíz da Minha Essência


O encontro com um familiar

Algum tempo depois quando caminhava para casa, alguém se aproxima Ao vê-la parei. Esta aguardou pela minha chegada e ao cumprimentá-la perguntou:
- Então andas sozinho? É raro ver-te só, onde deixaste a família?
- A família está toda bem graças a Deus, estão em casa dos meus sogros – respondi - quanto ao facto de estar sozinho preciso de rever algumas coisas, quero observar tudo com muito cuidado, afinal há coisas na terra que foram feitas já depois de eu ter saído.
- De facto tens razão, a vila não é a mesma do tempo em que tu aqui vivias, tem havido um melhoramento o que é bom – acrescentou.
- A nossa terra está cada vez mais bonita, é pena que muita gente saia daqui, porque não há empregos. As nossas terras estão desertas, qualquer dia só estão os mais velhos, os jovens fogem para os grandes centros urbanos, onde há mais trabalho, mais condições de vida. Aqui quem quer tratar a terra? Quando estes mais velhos morrerem não há quem saiba podar uma videira, uma amendoeira, uma oliveira,.. poderiam criar condições para que os mais novos não saíssem desta terra.
- Pois é. Tens toda a razão, e mais, se não criam essas condições quanto antes, estes jovens vão mesmo acabar por sair.
- Como sabes e melhor do que eu, as pessoas procuram uma vida melhor, procuram ser felizes noutras terras e como eu fiz quantos outros o fizeram.
Ao que ela acrescentou:
- É sempre mau quando a terra vê sair os seus filhos, para outras localidades, mas a vida é mesmo assim, vamos acreditar que dias melhores virão. Então diz-me quando é que vais?
- Estou a chegar, fico para a festa como sempre e lá para dia 26 ou 27 volto para a capital, é lá que se ganha a vida.
- Então a gente ainda se vê por aí.
- Então até amanhã - disse eu.    
 Depois de ela ir embora, continuei na minha caminhada e resolvi ir para casa, até porque tinha visto algo que me tinha deixado intrigado, pensava que a minha terra era impune a certas coisas, mas não, é o preço do acompanhar os tempos e as coisas.
 Já noite, subi à varanda, da casa de meus sogros, queria ouvir o silêncio daquela terra, do sossego dos seus encantos, queria olhar as luzes, queria ouvir o seu barulho, pretendia ficar só, mais um momento de saudade fazia com que eu permanecesse naquele lugar.
A saudade chamava o meu pensamento, queria envolver-me com a terra com as pessoas com as coisas e foi assim que sem saber, dou comigo a olhar o hospital da terra e vem à minha memória o nascimento da minha primeira filha, um marco para qualquer pai, um dia completamente diferente de todos os outros, um dia inesquecível. Depois vejo a realidade e reparo que já não nascem crianças em Vila Flor, pergunto-me “porquê?”
 Apesar de ter pensado durante uns segundos não consegui perceber o porquê…contudo as condições não serão as melhores, outros hospitais estão mais bem recheados para estes trabalhos. Depois olho a rua do hospital e vem à lembrança os passeios, o namoro, a feira de gado que se fazia defronte da quinta da pereira, à qual davam o nome de toiral.
Fui à cozinha e peguei um copo com água fresca. A minha sogra disse-me:
- Bebe uma cerveja que estão fresquinhas!
Respondi-lhe que a cerveja não me tira a sede e também não sou muito apreciador.
Voltei para a varanda e enquanto as senhoras ficavam à conversa, eu olhava para a Igreja Matriz e recordava a 1ª. Comunhão, a catequese, as festas, os dias de baptismo das minhas filhas, do meu casamento, entre tantas recordações que aquele local me dava. Um local de eleição, o ex-líbris da minha terra.    

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