segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Raíz da Minha Essência


Na casa de meus pais

Nessa noite fui novamente a casa de meus pais, pois nunca me vou deitar sem me despedir deles. Bati à porta, chamei por eles:
- Pai, pai, mãe, mãe!  
Fiquei ali por uns momentos a pensar, que por ventura já se haviam deitado, mas enganei-me pois pouco tempo depois apareceu o meu pai que nos abriu a porta e disse:
- Não nos deitávamos enquanto não viésseis.
Subi as escadas. Cheirou-me a doce de abóbora e claro que era a minha querida mãe que estava nestes preparos, sabia muito bem a quem o doce se destinava. Depois de lhe dar um beijo ela disse:
- Sabes meu filho, estou a fazer doce de botelha, para te deliciares aqui e levas também para tua casa.
Sem saber como agradecer tal gesto disse-lhe:
- Mãe amanhã é outro dia e só ainda cheguei hoje.
- Estando feito, feito está, eu tinha que o fazer, o teu pai não se calava, “faz o doce olha que o rapaz vêm aí e tu com o doce por fazer” – respondeu-me ela.
Pobre mãe, eu tão crescido e ela ainda preocupada com o seu menino, sim o seu menino pois quis Deus que assim fosse. Não resisti ao doce e nesse mesmo momento minha mãe interrompeu dizendo:
- Está no ponto!
Peguei numa carocha de pão e lambuzei-me com o doce! Enquanto comia meu pai contava mais uma das belas histórias. Confesso que ficava ali a noite toda a ouvi-lo. Não sei como se lembrava de tanta coisa! Falava daquilo com tanto gosto, os seus olhos brilhavam de alegria e em cada pausa que fazia, olhava-o, admirava-o, era o meu herói… nas suas sete quintas, parecia ter menos vinte anos, parecíamos dois irmãos, e eu como mais novo escutando a sabedoria do mais velho. Depois de contar uma das suas histórias parou para me dar conselhos, e posteriormente já a sós, enquanto a minha querida mãe dava os últimos retoques no doce e conversava com a minha esposa e filhas, disse-me a sós:
 - Olha meu filho, sei o que tu és e o que vales, gostaria de te ver de bem com a vida e com o mundo, e em especial com toda a gente…
Sabia muito bem onde ele queria chegar, não precisava de acrescentar mais, por que para bom entendedor meia palavra basta. Disse-lhe olhando olhos nos olhos:
- Pode andar sossegado, pode dormir descansado que se até aqui nunca lhe dei desgostos de aqui em diante será a mesma coisa.
Conversamos como dois grandes amigos, como os melhores amigos do mundo, afinal era o filho a escutar o que o pai dizia, sempre foi assim, desde muito cedo. Até depois de sair da minha terra, que meu pai me aconselhava, sempre com as melhores das intenções, conhecedor da vida, dos perigos, das coisas, embora não sabendo ler nem escrever, o que ele sempre dizia que adoraria saber mas o trabalho desde bem criança nunca lhe tinha proporcionado tal felicidade. Tinha a experiência dos tempos vividos, afinal de contas a vida é uma escola, que embora não nos ensine a ler e a escrever dá-nos o traquejo, a ratice, o saber lidar com as coisas e sabê-las contornar.
As horas tinham passado a correr e não havia maneira de fazer parar o relógio. Quando saímos em direcção a casa de meus sogros, o relógio da igreja dava as três da manhã. Mas era assim, tinhamos de pôr a conversa em dia, estávamos muito tempo sem nos ver, havia que aproveitar cada segundo para poder estar com os meus progenitores, com aqueles que me querem bem, que me apoiam, que me ajudam, que me querem ver feliz, pois nem sempre dispomos de podermos estar sozinhos.
Por vezes tenho necessidade de me encontrar com os meus pais e com eles partilhar determinadas coisas que não posso fazê-lo com outras pessoas, embora sejamos uma família, os nossos pais são e serão sempre os primeiros sabedores das nossas vidas, dos nossos problemas, por isso são nossos pais. Embora tenha pela minha irmã mais velha, uma grande admiração e confiança, gosto de todas da mesma forma só que a Maria da Conceição é diferente, é a mais velha, todos nós lhe estamos gratos porque quando a mãe não estava a São era irmã e mãe das nossas irmãs mais novas. Embora muito nova foi muito cedo responsável.     

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